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Estudo com 6 mil jogadores de futebol detecta anomalias em eletrocardiogramas de 3% dos atletas

Um estudo inédito desenvolvido pelo Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) analisou eletrocardiogramas de mais de 6 mil jogadores de futebol das séries A a D no Brasil e detectou anomalias em 3% deles. A pesquisa, liderada pelo pesquisador Filipe Ferrari e seu orientador, Ricardo Stein, envolveu jogadores de 82 clubes profissionais e foi publicada no British Journal of Sports Medicine, a revista mais prestigiada de medicina do esporte do mundo.

A morte do jogador uruguaio Juan Izquierdo em agosto, após uma parada cardiorrespiratória associada à arritmia cardíaca, levantou questões sobre a saúde dos atletas. O estudo do HCPA aponta que 180 jogadores, ou 3% do total, apresentaram eletrocardiogramas anormais. No entanto, os especialistas explicam que nem toda anomalia significa doença, mas que deve servir de alerta.

Os jogadores que participaram do estudo tinham entre 15 e 35 anos e eram todos homens. As alterações detectadas não necessariamente significam doenças graves, mas devem ser investigadas. O pesquisador Filipe Ferrari destaca que “esses 180 têm alguma alteração que não é esperada e podem ter alguma doença cardíaca. Em um jogo com 22 atletas, um ou outro com certeza deve ter, e isso não necessariamente significa a doença.”

A anomalia mais comum detectada foi a inversão da onda T ínfero-lateral, um achado anormal no eletrocardiograma. Alterações nessa onda podem sugerir condições cardíacas raras, as quais podem levar à morte súbita. Os pesquisadores também analisaram ecocardiogramas e ressonâncias magnéticas dos atletas e encontraram que nem todos os atletas com eletrocardiograma anormal apresentaram ecocardiograma e ressonância anormais.

Entre as doenças detectadas, estão condições que agravam o espessamento de uma parte do músculo cardíaco e a miocardite, que é uma inflamação do miocárdio. Um dos atletas que participou do estudo foi informado dos riscos e decidiu parar de praticar o esporte profissionalmente.

Os especialistas são unânimes em afirmar que o esporte e o exercício físico, por si, não matam. O maior risco é estar sedentário. É recomendado monitorar a saúde dos atletas, eventuais sintomas, histórico familiar e outros fatores para evitar que o exercício seja um gatilho para doenças cardiovasculares existentes.

A pesquisa também destacou que a ressonância cardíaca é o padrão-ouro para obter resultados mais seguros. Além disso, o estudo encontrou que os jogadores negros tiveram maior prevalência de inversão da onda T, uma alteração mais frequente também em jogadores negros em Gana, Reino Unido e França.

O estudo é inédito no Brasil e fornece dados nacionais robustos, diferentemente de estudos europeias que norteavam as pesquisas até então. Já foram coletados mais de 600 exames de jogadoras mulheres de 17 clubes do Brasil, e o estudo está sendo liderado por pesquisadores do Grupo de Pesquisa em Cardiologia do Exercício (CardioEx) do HCPA.

Essa pesquisa é fundamental para a avaliação da saúde dos atletas e pode ajudar a prevenir casos de morte súbita no esporte.

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