O futebol gaúcho perdeu uma de suas figuras mais emblemáticas com a morte de Arnaldo Costa Filho aos 102 anos. Médico do histórico time do Renner, campeão invicto do Gauchão de 1954, Arnaldo Costa Filho não foi apenas um profissional da saúde dedicado, mas também um verdadeiro pilar na estruturação da medicina esportiva no Rio Grande do Sul. Sua trajetória é um marco na evolução dos cuidados médicos nos clubes e sua influência ainda é percebida nas práticas atuais dentro e fora de campo.
Arnaldo Costa Filho foi pioneiro ao assumir a função de médico profissional do futebol no estado. Em uma época em que não havia sequer substituições durante os jogos, sua responsabilidade era imensa. Era necessário que os atletas lesionados retornassem ao campo, e ele fazia o possível com os recursos escassos disponíveis. Arnaldo Costa Filho enfrentava limitações tecnológicas e estruturais e, mesmo assim, era considerado um verdadeiro mago por resolver problemas clínicos com habilidade e rapidez.
Ao longo de sua carreira, Arnaldo Costa Filho também contribuiu decisivamente para a criação dos departamentos médicos de clubes como Grêmio e Internacional. Ele incentivava o investimento em tecnologias de ponta para a época, chegando a introduzir equipamentos como o Raio-X, até então ausente das estruturas esportivas locais. Com isso, Arnaldo Costa Filho ampliou a segurança dos atletas e mudou os padrões de atendimento médico dentro dos clubes, antecipando práticas hoje consideradas essenciais.
A pesquisa Lesões Meniscais do Joelho apresentada por Arnaldo Costa Filho serviu de referência para o estabelecimento de prazos mínimos de recuperação pós-cirúrgica em atletas. Esse estudo foi importante não apenas para o futebol gaúcho, mas também para outras modalidades esportivas, como vôlei, basquete e pugilismo. Arnaldo Costa Filho atuou como médico de diversas seleções gaúchas, consolidando sua autoridade no cenário esportivo estadual e deixando sua marca em diferentes esportes.
Arnaldo Costa Filho era também um respeitado professor e pesquisador. Seu compromisso com a Educação Física e a medicina do esporte o levou a ser um dos três aprovados no primeiro curso de Medicina Aplicada à Educação Física e aos Desportos no Brasil em 1948. Desde então, sua atuação unia conhecimento científico e prática esportiva de maneira inovadora. Arnaldo Costa Filho compreendia a importância de uma abordagem integrada para preservar o desempenho e a saúde dos atletas.
O médico dedicou três décadas ao Pronto Socorro de Porto Alegre e ajudou a fundar instituições importantes como o Cremers, a Amrigs e a Unimed. Era membro honorário da Academia Sul-Riograndense de Medicina. Com essas iniciativas, Arnaldo Costa Filho fortaleceu o vínculo entre medicina e sociedade, influenciando gerações de profissionais da saúde. Sua atuação ultrapassou o ambiente esportivo e alcançou a população em geral, sempre com o mesmo espírito de dedicação.
Mesmo aos 101 anos, Arnaldo Costa Filho era lúcido e ativo. Sua receita para a longevidade era clara e objetiva. Não fumar, evitar exageros com álcool, praticar atividades físicas e manter uma alimentação saudável. Mas, sobretudo, dar importância ao descanso. Arnaldo Costa Filho acreditava que o repouso era essencial para viver bem. Suas palavras refletiam uma filosofia de vida pautada pelo equilíbrio, algo que ele manteve até o fim de seus dias.
O velório de Arnaldo Costa Filho foi marcado para este sábado na capela 7 do Cemitério João XXIII, em Porto Alegre. Familiares, amigos e admiradores tiveram a oportunidade de se despedir de uma figura histórica do esporte e da medicina. Arnaldo Costa Filho não será lembrado apenas por seus feitos técnicos e científicos, mas também pelo exemplo de vida. O futebol gaúcho se despede de um de seus maiores pioneiros, cuja contribuição ultrapassou os limites do campo e entrou para a história.