Quando uma entidade esportiva pública ou privada convoca audiências para deliberar sobre escalas de arbitragem ou disputas de campeonatos locais, aquilo que se manifesta vai além dos jogos em si. Essas audiências assumem caráter político, de controle social, e são elementos capazes de impactar diretamente na credibilidade das instituições futebolísticas. Ao divulgar datas de encontros públicos para debater o andamento de competições estaduais, uma federação estadual reforça o princípio da transparência com seus clubes, torcedores e poderes públicos locais.
No Rio Grande do Sul, por exemplo, sempre que são anunciadas audiências para definir árbitros em campeonatos regionais e categorias de base, isso acena com a ideia de que decisões não ficarão apenas nos bastidores. O processo público visibiliza quem compõe o corpo de arbitragem, quem faz substituições e quem fiscaliza. A institucionalização dessas práticas permite que a imprensa local e as entidades civis observem de perto os desdobramentos das regras do esporte. Assim, o futebol deixa de ser um espaço fechado e passa a dialogar com a sociedade.
Tal procedimento coloca os dirigentes em posição de prestação de contas política. Se clubes ou federação não explicam como o sorteio ou designação de árbitros ocorre, suspeitas e insinuações podem surgir. Mas com audiências abertas, há expectativa de legitimidade. As instituições esportivas carregam responsabilidades similares às de órgãos públicos: devem responder ao público e justificar escolhas. Quando há clareza nos atos, o ambiente ganha estabilidade institucional e menor margem para favoritismo ou questionamentos.
O vínculo com política vai além da transparência formal. Os clubes muitas vezes dependem de apoio municipal ou estadual, de patrocínios públicos e incentivos fiscais. Esses vínculos reforçam a interseção entre esporte e poder. Logo, se clubes pressionam por decisões internas, ou influenciam nomes de árbitros ou comissões técnicas, estamos diante de dinâmicas políticas que ultrapassam o gramado. Discursos de influência, bastidores e articulações podem surgir por meio de negociações com patrocinadores públicos ou lideranças políticas. Nesse contexto, as audiências abertas devem servir também como marcos de controle democrático.
Outra dimensão é a comunicação pública desses procedimentos. A divulgação das datas, horários e formatos de audiência permite que quem tenha interesse — clubes, torcedores, imprensa — acompanhe. Se uma federação anuncia com antecedência e fornece transmissão digital ou registro, possibilita ampla participação e registro permanente. Esse modelo legitima o processo, pois ele não se esgota no evento presencial: as deliberações ficam documentadas e acessíveis para futuras auditorias ou escrutínios públicos.
Na esfera política estadual, iniciativas similares de controle social são bem avaliadas em outras áreas, como saúde ou educação. Aplicá‑las no futebol reforça cultura de governança. Um município pode exigir que o time local, ao participar de torneios estaduais, respeite obrigações de transparência, divulgando escalas e decisões em audiências públicas. Isso incentiva que o esporte seja parte de políticas públicas municipais ou regionais, fortalecendo a cidadania. Clubes que resistem podem ser pressionados por vereadores, conselhos municipais ou associações de torcedores ativos.
Também vale destacar que a audiência pública é instrumento de mediação. Se há reclamações de times ou impasses sobre escala de árbitros, datas ou conflitos normativos, esse espaço coletivo torna possível negociar ajustes em vez de acionar instâncias judiciais ou Tribunal de Justiça Desportiva. A mediação pública reduz o litígio e fomenta consenso. Nesse ambiente, uma federação estadual ou comissão árbitral reforça sua legitimidade como árbitro institucional de conflitos esportivos.
Por fim, quando federações estaduais adotam esse procedimento de publicação de encontros para definir aspectos técnicos das competições, elas fomentam avanço institucional. A interlocução com clubes, imprensa e poderes públicos fortalece a imagem do esporte como setor relevante da política local. A prática de audiências públicas serve de ponte entre futebol e governança cidadã, elevando a qualidade administrativa do esporte regional e inspirando iniciativas semelhantes em outras federações.
Autor: Kozlov Lebedev